terça-feira, 16 de outubro de 2007

VENTO-VERTIGEM

O Vento-vertigem vem do oeste lado. Pode ser qualquer coisa que se viu ou sentiu e ainda assim a matéria de que é feito não lhe dá nome. O Vento-vertigem é bem deste mundo, mas pode vir de outros; passa sempre naquela vizinha irreconhecível parte de nós. Na realidade, o vento-vertigem sopra só para os que se permitem vê-lo, somente àqueles cuja inocência perdida já devassa qualquer coisa.

Vento-vertigem, perguntam-se os doutos na matéria, a que a forma sempre se dispensam e enganados acabam por render-lhe homéricas homenagens. Vento-vertigem.

O Vento-vertigem presta-se a quê, perguntam aqueles que o sentem – sentir não é, no horizonte de tudo que se possui, engendrar a própria verdade do Vento-vertigem. E o Vento-vertigem brada a resposta ziguezagueante: passo. Acaso sentis o Vento-vertigem, caros irmãos?

O Vento-vertigem se forma do fluido e impensado, mas que por acaso da justiça – e da beleza – foi pensado aos borbotões e depois martelado e forjado. O Vento-vertigem nem pede, só pesa a palavra e o que ela contém.

O Vento-vertigem vive do imaginário. Portanto, todas as coisas, no círculo que tange àquelas do Vento, são imaginação.

Numa dessas noites qualquer, o Vento-vertigem atacou o menino que se descobriu gauche, um outro dentuço, aquele com um esquadro nas mãos e o que tentou pegar o cometa.


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Ainda hoje, tabuinha de pedra nas mãos, séculos depois, o Vento-vertigem perpassa e, matéria corrosiva, atinge aqueles que habitam o caminho por que ele passa.

Vento.





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patrícia a. a.

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